segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Antigomobilismo




Para inaugurar a semana comemorativa do aniversário de 455 anos da cidade publico abaixo um texto de Henrique Coelho, restaurador de carros antigos e que tem um belo projeto que está apresentando à alguns dos tradicionais estabelecimentos comerciais da Paulicéia ainda em atividade.

O assunto vem a calhar já que fala de automóveis e memória.

A FORD no Brasil

Henrique Coelho

A Ford Americana aprovou a criação da filial brasileira, destinando para tanto um capital inicial de 25 mil dólares tranferidos da filial da Argentina (1ª sucursal na América do Sul). As operações iniciaram em 1919 com apenas 12 funcionários, num depósito de 2 andares na R. Florêncio de Abreu, no centro de São. Paulo, onde se iniciou a montagem de automóveis Modelo T e os caminhões Ford TT. Foi o primeiro fabricante de automóveis à se estabelecer no Brasil. No 1º ano das operações no Brasil, foram vendidos 2.447 automóveis.

Em 1920 as instalações da fábrica foram transferidas p/ um ringue de patinação na Praça da República. Neste ano foram vendidos mais de 4.000 unidades. No ano seguinte foi inaugurada a sede própria da Ford do Brasil na Rua Solon, no bairro do Bom Retiro em um prédio especialmente construído para funcionar como linha de montagem, tendo como engenheiro responsável pela obra o Sr. B. R. Brown, que havia supervisionado também a construção da fábrica americana de Highland Park.

As vendas do Modelo T naquele ano foram 24.250. A Ford montou então a 1ª Exposição de automóveis do Brasil, em S. Paulo, no Palácio das Indústrias entre 4 e 12 de Outubro.

Em 1927 a Ford inaugurou o Centro de Treinamento e Serviços da Ford em São Paulo, iniciativa pioneira no país para a formação de mecânicos especializados. No mesmo ano foram adquiridos novos terrenos no bairro do Ipiranga, com vistas à futura expansão. Ou seja a Ford criou suas raízes na capital paulistana e só depois foi mudar-se para o ABC.

Mas, no meio do ano a produção do Modelo T foi interrompida não só no Brasil mas em todo o mundo em todo o mundo para receber o inovador modelo A com seu motor de 4 cilindros e 40 HP, proporcionando novos níveis de desempenho e imensa durabilidade. Um dos veículos de melhor relação custo-benefício da história do automóvel e um dos modelos antigos de maior índice de sobrevivência. O popular "Fordinho" no Brasil, substituiu o Modelo T e trouxe novos recordes de vendas.

Um automóvel simples e robusto. Diferentes versões foram produzidas. A Ford estava se reinventando. Enquanto o modelo T era o “Touring” o novo modelo A seria o primeiro de uma nova era. E que começo. Versões de passageiros conversíveis e fechados de 2 e 4 portas foram feitos de 1928 a 1931 que chegavam ao Brasil sob a forma de CKD. Haviam versões “standard” e versões “deluxe”. Já em 1929 o modelo A era o automóvel mais vendido do Brasil.

Cerca de 800 destes carros ainda estão por aí. Cerca de metade perfeitamente restaurada e em plena condição de uso. Uns 100 a 150 parados ou restaurados apenas esteticamente e uns outros 200 espalhados por aí largados em galpões, ferro-velhos, sítios e fazendas.

A cidade andou sobre estes veículos. Eles foram o primeiro símbolo de massificação do automóvel, nos EUA, no Brasil e no mundo. Transportaram muita gente. Transportaram muitas cargas. O modelo A ou, como é hoje mais conhecido, o “fordinho” desafiou o tempo e como disse Henry Ford, “foi feito pra durar”.

O Projeto

Muitos dos fordinhos que passam nas mãos dos célebres artistas restauradores são automóveis de passageiros. Muito raramente encontramos veículos comerciais seja em função do pesado batente da época aliado a ruas de calçamento precário seja em função do sua própria vida útil.

Fato é que os fordinhos comerciais mais populares da época foram a pick up leve em suas versões de teto conversível ou rígido e também o fordinho “delivery” que nada mais era do que um fordinho de 2 portas com as janelas traseiras fechadas e interior de madeira preparado para receber cargas leves. Uma porta adicionada à traseira dava acesso ao compartimento de cargas.

O primeiro modelo citado - as pick-ups - ainda as encontramos em restaurações novas e outras nem tanto. Já o fordinho “delivery” este é muito raro contando-se nos dedos os exemplares restaurados.

Daí vieram a idéia e a oportunidade.

A idéia

São Paulo possui estabelecimentos centenários e que, certamente, se utilizaram do fordinho “delivery” em suas jornadas comerciais. Seriam exemplos vivos do desenvolvimento de nossa cidade e de como se deu a interação entre capital, trabalho, homem e máquina. Uma lembrança mais do que merecedora para a cidade de São Paulo.

A oportunidade

Voltando aos magos das restaurações, vim a conhecer os Irmãos Pastorelli, restauradores de mão cheia que possuem um Fordinho Phaeton 1929 com cerca de 1 milhão de quilômetros rodados e que trabalham com restaurações e manutenção destes automóveis em sua oficina no bairro do Ipiranga, local utilizado pela Ford quando da época da produção do Ford Modelo A.

Lá em suas oficinas me deparei com um Ford Tudor Sedan 2 portas, modelo 55-A de 1929 que ostenta a mesma estrutura do fordinho Delivery Car modelo 130-A do mesmo ano. Foi colhido em um ferro-velho e detém as marcas do tempo. Mas vislumbro um futuro melhor pra ele...

Penso em restaurá-lo como o fordinho delivery de um dos estabelecimentos que igualmente resistiram ao tempo ainda estão na ativa. Faria a restauração dele como um fordinho de entregas reconstituindo toda a parte de carpintaria, itens de acabamento e mecânica original como o veículo requer. O simpático fordinho receberia pintura alusiva ao estabelecimento (com grafia de época) e levaria as ruas que outrora viram vários deles circulando pelo centro e adjacências um saudoso abraço de reencontro saudando os transeuntes com sua peculiar buzina “ahooga”!

Enfim, o momento é de pesquisa, trabalho e, obviamente busca de recursos. Estou a procura de estabelecimentos de qualquer espécie que vivem e viveram a história da cidade e que se interessariam em participar desta empreitada patrocinando a restauração do automóvel.

O veículo será adquirido com recursos próprios e sua restauração correria por conta do estabelecimento que se interessasse em estampar seu logo e dizeres no fordinho para exibi-lo em passeios e encontros de antigomobilismo no centro de São Paulo durante finais de semana, etc.

Estabelecimentos paulistanos tradicionais que tem justamente no tradicionalismo um ponto de força de sua marca, estes poderiam contar que este “outdoor” ambulante participando de eventos, feiras, encontros, série ou filmes para TV ou cinema ou simplesmente desfilando pelas ruas de São Paulo.

O certo é que ele será um exemplo de preservação da memória desta cidade cujo crescimento e desenvolvimento foi duramente gravado nas ruas por onde ele passou, levando e trazendo, e transformando o futuro em presente. Agora, sendo um senhor de 80 anos, pretendo que continue na ativa desta vez transformando o passado em presente para trazer cultura e educação para os nossos cidadãos.

Se você tem vínculo com algum estabelecimento centenário que pudesse se interessar pelo projeto, envie por gentileza o meu email. Terei o mais absoluto prazer em mostrar-lhe o projeto, estudos e demais detalhes. Um abraço.


Henrique Coelho


hcoelho@autonomy.com.br

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