terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Olhares - Campos Elíseos II
















































































Olhares - Ipiranga


Casarões da família Jafet no bairro do Ipiranga.

























































































Olhares - Liberdade




Passado e presente convivendo em harmonia.



















Olhares - Campos Elíseos I

Para a fidalga Silvia


Algumas imagens do passado que ainda resiste no presente.

Palacete José de Souza Queiróz, 1911.














segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Os automóveis na velha São Paulo


Consultando minha coleção paulística para preparar os artigos em comemoração ao aniversário da cidade, me deparei com diversos relatos sobre os primeiros automóveis e seus intrépidos chauffeurs pelas ruas paulistanas. Sendo o automóvel algo tão intrínseco no cotidiano da cidade, achei por bem começar contando um pouco de sua história.

Todos são unânimes em afirmar que primeiro automóvel a rodar pela cidade, em 1893, pertencia à Henrique Santos-Dumont, morador dos Campos Elíseos. Era um Daimler inglês a vapor, com caldeira, fornalha e chaminé.

Quando saía pelas irregulares ruas paulistanas atraía olhares curiosos, como o do menino Jorge, morador no mesmo bairro que o irmão do grande inventor:

"Um domingo, entre 1899 e 1900, eu estava à janela, e escutei para o lado da esquina roncos ou sopros repetidos, seguidos de um formidável barulho de trepidação. Logo apareceu o estranho veículo, que de repente parou. Eu que já tinha ouvido falar em automóvel (com o nome de carro elétrico) gritei para dentro: Venham ver um carro elétrico!

No banco da frente vinha Luis Dumont, irmão de Santos Dumont, que já começava a ser conhecido em Paris, por causa dos balões dirigíveis que estava inventando.
Ao seu lado, outro homem (talvez o esportista Antonio Prado Jr., que teria entre 19 e 20 anos). [...] Desceram. Juntou molecada. Uns dez. O Dumont tirou de debaixo do banco um ferro com a forma da letra Z.

Ajustou-o a uma ponta saliente, pela frente do carro. Tive a impressão de que ele estava "dando corda", como nos brinquedos de criança. Suou. Depois veio o outro. Suou. Não conseguiram. Ofereceu-se um homem. Não conseguiu. Luis Dumont conseguiu de repente, o carro deu estremeções violentos, embarcaram e partiram.

- Aquilo não vai dar certo. A gente anda depressa, mas quando pára, perde o tempo, sua e chega emporcalhado e cansado.

- Vai dar certo. Você ainda verá carros com a velocidade de trinta quilômetros por hora, sem desarranjos."¹

Não se guardou o nome do profeta, mas deu certo sim, e creio ser essa a velocidade média na cidade atualmente.

Mas a exibição do automobilista aguçou os olhos do fisco municipal, que logo tratou de cobrar um imposto sobre o novo veículo. Henrique Dumont não gostou, e, em 3 de fevereiro de 1901, mandou uma carta ao então prefeito, Conselheiro Antonio Prado:

"O Dr. Henrique Santos Dumont vem requerer baixa no lançamento do imposto sobre seu 'Automobile', pelas seguintes razões: o suplicante, sendo o primeiro introdutor desse sistema de veículo nesta cidade, o fez com sacrifício de seus interesses e mais para dotar a nossa cidade com esse exemplar de veículo automobile (...)".

No documento dava outras razões, reclamando do mau calçamento das ruas, que causava danos ao veículo, mas sua argumentção não foi aceita pela municipalidade. Uns dizem que, desgostoso, Henrique encostou o carro na garagem, mas o certo é que ele não conseguiu a placa número 1, que ficou com Menotti Falchi e logo foi vendida para o industrial Francesco Matarazzo. No começo do século havia uma disputa pelas placas baixas. O médico Walter Seng, dono da placa 2, recusou proposta de 5 contos de réis de Matarazzo e, em resposta, ofereceu o dobro pela chapa 1. Entre os donos de placas de apenas um algarismo também estavam o Conde Eduardo Prates, Antonio Prado Jr., Pérsio Pacheco e Silva e o Coronel Piedade.

Poucos anos depois desse incidente o automóvel deixava de ser uma coisa estranha para se fazer cada vez mais presente na vida da cidade. Em 1906 já havia cerca de 30 na cidade, o que levou o presidente do Estado solicitar aos proprietários que cedessem seus veículos para a comitiva do secretário norte-americano Elihu Rooth. Manoel Guedes, Alvaro Meneses e Prado Jr. foram alguns que atenderam ao pedido oficial. Contam que muitos automóveis tinham pintado nas portas o monograma do proprietário, como era uso nas antigas carruagens. O certo é que alguns eram decorados com vasos de flores e cortinas.

O governo estadual logo pensou em adquirir um automóvel e aposentar os coches puxados por quatro animais. Através de uma lista de contribuições do comércio, foi oferecido um veículo ao governo. O primeiro chofer oficial da cidade foi Salvador Câmara, cuja nomeação foi assinada pelo então secretário de Justiça Washington Luis.²

Sobre as aulas de direção, quem nos conta é Jorge Americano; curioso notar o "método de ensino" aplicado pelo instrutor (grifo meu):

"Chama-se Cláudio. Creio que era em São Paulo o primeiro proprietário de auto-escola para motoristas profissionais.

Vinha o carro, com capota de lona, todas as manhãs à mesma hora, subindo a ladeira, com um aluno na direção e três outros, atentos, no banco de trás.

Desde que começava a subida Cláudio gritava com acento italiano, para o da direção: - "A mudança, desgraçado! Muda para segunda, seu burro!" O "burro" era de reflexos tardios e quando ia fazer a mudança, toda roncada, o carro perdia a velocidade, parava o motor, e começava a andar para trás.

- "O breque, estúpido, o breque! Madona! Quase que me escangalha o carro. Sua besta, você nunca há de aprender a guiar. Não me faça essa cara de idiota, larga daí e passa para trás."³

Mas já estava decretado que, burros ou não, surgiriam cada vez mais motoristas e a história do automóvel em São Paulo seria marcante.

A primeira viagem da capital até Santos teve início na manhã de 16 de abril de 1908, uma quinta-feira santa. Antonio Prado Jr., ao volante de um Motobloc 30 cavalos, acompanhado do major Bento Canabarro, do Dr. Mario Cardim, do engenheiro Clóvis Glicério (dono do carro) e do mecânico Malé.

Atingiram a cidade de Santos no dia seguinte, as 7 horas da noite, depois de inúmeras dificuldades e peripécias: 66 km em 25 horas de viagem.4

Começava a era do Automóvel e os velhos tílburis, landôs, coupês, vitórias e os elegantes phaetons virariam peças de museu, perdidos na bruma da saudade e das lembranças de uma cidade que não tem tempo para o passado.


Notas
1- São Paulo naquele tempo, Jorge Americano, Saraiva, 1957, p.198
2- São Paulo de nossos avós, Raimundo de Menezes, Saraiva, 1963, p. 76
3 -
São Paulo naquele tempo, Jorge Americano, Saraiva, 1957, p. 204
4-
São Paulo de nossos avós, Raimundo de Menezes, Saraiva, 1963, p. 74-75

Antigomobilismo




Para inaugurar a semana comemorativa do aniversário de 455 anos da cidade publico abaixo um texto de Henrique Coelho, restaurador de carros antigos e que tem um belo projeto que está apresentando à alguns dos tradicionais estabelecimentos comerciais da Paulicéia ainda em atividade.

O assunto vem a calhar já que fala de automóveis e memória.

A FORD no Brasil

Henrique Coelho

A Ford Americana aprovou a criação da filial brasileira, destinando para tanto um capital inicial de 25 mil dólares tranferidos da filial da Argentina (1ª sucursal na América do Sul). As operações iniciaram em 1919 com apenas 12 funcionários, num depósito de 2 andares na R. Florêncio de Abreu, no centro de São. Paulo, onde se iniciou a montagem de automóveis Modelo T e os caminhões Ford TT. Foi o primeiro fabricante de automóveis à se estabelecer no Brasil. No 1º ano das operações no Brasil, foram vendidos 2.447 automóveis.

Em 1920 as instalações da fábrica foram transferidas p/ um ringue de patinação na Praça da República. Neste ano foram vendidos mais de 4.000 unidades. No ano seguinte foi inaugurada a sede própria da Ford do Brasil na Rua Solon, no bairro do Bom Retiro em um prédio especialmente construído para funcionar como linha de montagem, tendo como engenheiro responsável pela obra o Sr. B. R. Brown, que havia supervisionado também a construção da fábrica americana de Highland Park.

As vendas do Modelo T naquele ano foram 24.250. A Ford montou então a 1ª Exposição de automóveis do Brasil, em S. Paulo, no Palácio das Indústrias entre 4 e 12 de Outubro.

Em 1927 a Ford inaugurou o Centro de Treinamento e Serviços da Ford em São Paulo, iniciativa pioneira no país para a formação de mecânicos especializados. No mesmo ano foram adquiridos novos terrenos no bairro do Ipiranga, com vistas à futura expansão. Ou seja a Ford criou suas raízes na capital paulistana e só depois foi mudar-se para o ABC.

Mas, no meio do ano a produção do Modelo T foi interrompida não só no Brasil mas em todo o mundo em todo o mundo para receber o inovador modelo A com seu motor de 4 cilindros e 40 HP, proporcionando novos níveis de desempenho e imensa durabilidade. Um dos veículos de melhor relação custo-benefício da história do automóvel e um dos modelos antigos de maior índice de sobrevivência. O popular "Fordinho" no Brasil, substituiu o Modelo T e trouxe novos recordes de vendas.

Um automóvel simples e robusto. Diferentes versões foram produzidas. A Ford estava se reinventando. Enquanto o modelo T era o “Touring” o novo modelo A seria o primeiro de uma nova era. E que começo. Versões de passageiros conversíveis e fechados de 2 e 4 portas foram feitos de 1928 a 1931 que chegavam ao Brasil sob a forma de CKD. Haviam versões “standard” e versões “deluxe”. Já em 1929 o modelo A era o automóvel mais vendido do Brasil.

Cerca de 800 destes carros ainda estão por aí. Cerca de metade perfeitamente restaurada e em plena condição de uso. Uns 100 a 150 parados ou restaurados apenas esteticamente e uns outros 200 espalhados por aí largados em galpões, ferro-velhos, sítios e fazendas.

A cidade andou sobre estes veículos. Eles foram o primeiro símbolo de massificação do automóvel, nos EUA, no Brasil e no mundo. Transportaram muita gente. Transportaram muitas cargas. O modelo A ou, como é hoje mais conhecido, o “fordinho” desafiou o tempo e como disse Henry Ford, “foi feito pra durar”.

O Projeto

Muitos dos fordinhos que passam nas mãos dos célebres artistas restauradores são automóveis de passageiros. Muito raramente encontramos veículos comerciais seja em função do pesado batente da época aliado a ruas de calçamento precário seja em função do sua própria vida útil.

Fato é que os fordinhos comerciais mais populares da época foram a pick up leve em suas versões de teto conversível ou rígido e também o fordinho “delivery” que nada mais era do que um fordinho de 2 portas com as janelas traseiras fechadas e interior de madeira preparado para receber cargas leves. Uma porta adicionada à traseira dava acesso ao compartimento de cargas.

O primeiro modelo citado - as pick-ups - ainda as encontramos em restaurações novas e outras nem tanto. Já o fordinho “delivery” este é muito raro contando-se nos dedos os exemplares restaurados.

Daí vieram a idéia e a oportunidade.

A idéia

São Paulo possui estabelecimentos centenários e que, certamente, se utilizaram do fordinho “delivery” em suas jornadas comerciais. Seriam exemplos vivos do desenvolvimento de nossa cidade e de como se deu a interação entre capital, trabalho, homem e máquina. Uma lembrança mais do que merecedora para a cidade de São Paulo.

A oportunidade

Voltando aos magos das restaurações, vim a conhecer os Irmãos Pastorelli, restauradores de mão cheia que possuem um Fordinho Phaeton 1929 com cerca de 1 milhão de quilômetros rodados e que trabalham com restaurações e manutenção destes automóveis em sua oficina no bairro do Ipiranga, local utilizado pela Ford quando da época da produção do Ford Modelo A.

Lá em suas oficinas me deparei com um Ford Tudor Sedan 2 portas, modelo 55-A de 1929 que ostenta a mesma estrutura do fordinho Delivery Car modelo 130-A do mesmo ano. Foi colhido em um ferro-velho e detém as marcas do tempo. Mas vislumbro um futuro melhor pra ele...

Penso em restaurá-lo como o fordinho delivery de um dos estabelecimentos que igualmente resistiram ao tempo ainda estão na ativa. Faria a restauração dele como um fordinho de entregas reconstituindo toda a parte de carpintaria, itens de acabamento e mecânica original como o veículo requer. O simpático fordinho receberia pintura alusiva ao estabelecimento (com grafia de época) e levaria as ruas que outrora viram vários deles circulando pelo centro e adjacências um saudoso abraço de reencontro saudando os transeuntes com sua peculiar buzina “ahooga”!

Enfim, o momento é de pesquisa, trabalho e, obviamente busca de recursos. Estou a procura de estabelecimentos de qualquer espécie que vivem e viveram a história da cidade e que se interessariam em participar desta empreitada patrocinando a restauração do automóvel.

O veículo será adquirido com recursos próprios e sua restauração correria por conta do estabelecimento que se interessasse em estampar seu logo e dizeres no fordinho para exibi-lo em passeios e encontros de antigomobilismo no centro de São Paulo durante finais de semana, etc.

Estabelecimentos paulistanos tradicionais que tem justamente no tradicionalismo um ponto de força de sua marca, estes poderiam contar que este “outdoor” ambulante participando de eventos, feiras, encontros, série ou filmes para TV ou cinema ou simplesmente desfilando pelas ruas de São Paulo.

O certo é que ele será um exemplo de preservação da memória desta cidade cujo crescimento e desenvolvimento foi duramente gravado nas ruas por onde ele passou, levando e trazendo, e transformando o futuro em presente. Agora, sendo um senhor de 80 anos, pretendo que continue na ativa desta vez transformando o passado em presente para trazer cultura e educação para os nossos cidadãos.

Se você tem vínculo com algum estabelecimento centenário que pudesse se interessar pelo projeto, envie por gentileza o meu email. Terei o mais absoluto prazer em mostrar-lhe o projeto, estudos e demais detalhes. Um abraço.


Henrique Coelho


hcoelho@autonomy.com.br

sábado, 17 de janeiro de 2009

São Paulo 455 anos



Detalhe de portão de um palacete da família Jafet, no bairro do Ipiranga


Caros amigos e leitores

a partir de segunda-feira teremos novos artigos em comemoração aos 455 anos da cidade de São Paulo.

Livros antigos, trabalhos sobre a preservação da memória paulistana e visões de diversos cronistas serão a singela contribuição deste site às comemorações do aniversário da cidade.

Aproveito para recomendar os artigos publicados sobre esse assunto no Flanela Paulistana.

Saiba mais pesquisando aqui

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