sábado, 6 de outubro de 2007

O dinheiro do Barão

A Família Prado foi, sem sombra de dúvida, uma das mais importantes na história paulista a partir do alvorecer do século XIX. Fazendeiros, políticos, empresários, escritores, um Prado sempre se destacava. Um deles, Eduardo, grande amigo de Eça de Queiroz, foi quem inspirou a personagem principal de "A cidade e as Serras", uma das grandes obras do escritor português.

A família tem seu início no Brasil no século XVIII com o primeiro Antonio da Silva Prado (seriam muitos) que, vindo de Portugal, se estabeleceu na Vila de Parnayba. Daí um erro muito comum: achar que os Prado eram “quatrocentões”; na verdade eles não eram descendentes do frondoso tronco de João Ramalho e Bartira, mas através de casamentos uniram-se a essas famílias. O próprio Antonio casou-se na família Siqueira de Moraes, das mais antigas de Piratininga.

Hoje vou falar do terceiro Antonio da Silva Prado (1778 – 1875), um paulistano que aos dezoito anos, órfão de pai, foi para Bahia negociar algodão. Voltou alguns anos depois, já com um bom dinheiro na algibeira, e se firmou como negociante em São Paulo. Comprava e vendia mulas, emprestava dinheiro, animava o comércio. Conseguiu arrematar em uma concorrência o imposto de Sorocaba, que era cobrado sobre todos os animais que vinham do sul para serem vendidos naquela cidade paulista. Essa espécie de pedágio era chamada de registro e movimentava um belo dinheiro; foi aí que Antonio Prado começou a enriquecer.

Quando o Príncipe D. Pedro proclamou a Independência Prado estava com ele e sempre foi fiel ao imperador. Graças a essa fidelidade ao governo imperial mais tarde foi agraciado com o título de Barão de Iguape. Nesse tempo já era homem respeitado na Província, até mesmo uma filial do Banco do Brasil ele conseguiu montar em São Paulo!

Só que bem antes disso, aí por volta de 1820, ele comoveu-se com a história de Maria Cândida de Moura Vaz, abandonada pelo marido e com duas filhas pequenas. Não só se comoveu mas se apaixonou e foram viver maritalmente. Seria um grande escândalo naquele burgo que era São Paulo, mas Antonio era rico e o povo logo se calou. Em 1823 nascia o primeiro filho do casal, Veríssimo, e dois anos depois Veridiana, aquela que seria a grande dama paulista, de quem falarei em outra crônica. Só quando o primeiro marido de Maria Cândida morreu é que eles puderam oficializar a união perante a igreja. Antes disso Antonio já havia arranjado bons casamentos para as enteadas, a quem queria como suas próprias filhas.

Pois muito bem, sabendo isso sobre o nosso personagem posso retomar o título desta crônica e narrar o que aconteceu de curioso. Certa ocasião circulou um boato que o Barão estava falido. Naquela cidadela de vinte mil almas isso deve ter corrido feito rastilho de pólvora, até chegar aos ouvidos do próprio Barão. Nessa época ele já morava no grande sobrado na esquina das ruas Direita e São Bento, no local que, por ter os únicos quatro ângulos retos da cidade, era conhecido por Quatro Cantos (hoje em dia, no local encontra-se o Edifício Barão de Iguape, sede do Unibanco, na Praça do Patriarca).

Ora, era preciso tomar uma atitude: para calar a boca os maldizentes o Barão pegou todo o dinheiro que tinha em casa – e que não era pouco – colocou-o na calçada da rua Direita e deixou um escravo tomando conta. Aos que passavam e olhavam a cena insólita, o bom preto respondia calmamente: “Num vê que o dinheiro tava pegando bolor, entonce o sôr Barão mandô colocar aqui amode tomá sol..."

Essa era a velha São Paulo, onde um dia um velho milionário colocava o dinheiro pra tomar sol em plena rua Direita!

Imagem: O Barão de Iguape (Fonte: Pioneiros e Empreendedores)

(publicado originalmente no site VivaSP, em 09/06/2006)

Um comentário:

Anônimo disse...

Achei muito boa essa iniciativa de trazer informações sobre a família prado.espero que continue.Sou da família prado da Bahia.Meus avós eram de caitité e iriri.O nome da minha bisavó era Castora.

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